GM promove revolução industrial no Brasil. Todas as fábricas passam por
modernização e ampliação com investimento de R$ 2,5 bi
Pinheiro:
muito trabalho para ampliar e modernizar as fábricas da GM no Brasil
Ao renovar
praticamente 100% de seu portfólio de produtos no Mercosul, a General Motors
promoveu uma verdadeira revolução industrial em suas fábricas no Brasil, com
maior ênfase em Gravataí (RS) e na cinquentenária São Caetano do Sul (SP), além
de criar uma nova planta de motores em Joinville (SC), que este mês já começou a
produzir cabeçotes. Só em novas áreas construídas no País, a montadora
acrescentou 83 mil metros quadrados em quatro unidades produtivas. Novas linhas
de estamparia, pintura, soldagem de carrocerias e montagem final foram
construídas ao lado das antigas, duplicando a capacidade em alguns casos, além
de aumentar substancialmente o nível de automação, com a chegada de 400 novos
robôs. A conta ficou em R$ 2,5 bilhões, ou metade do atual programa de
investimentos da GM Brasil, de R$ 5 bilhões, que termina este ano.
José
Eugênio Pinheiro, vice-presidente de manufatura da GM América do Sul, falou
sobre os desafios envolvidos em tamanha mudança em tão pouco tempo em sua
apresentação “A Nova Manufatura da GM na Renovação do Portfólio”, durante o
Simpósio de Manufatura Automotiva, realizado pela Sociedade de Engenharia
Automotiva, SAE Brasil, em São Paulo, nesta segunda-feira, 25. O executivo
contou que a modernização das plantas foi puxada pelos cinco novos produtos já
lançados desde 2011 e outros três ainda a lançar até o fim deste ano, em ritmo
nunca visto antes: “Em nenhum momento na GM Brasil tivemos tantos lançamentos ao
mesmo tempo.”
Pinheiro destacou que os diversos problemas surgidos com
as mudanças nas fábricas também foram superados em tempo recorde: “O cronograma
era muito apertado, com um lançamento a cada três meses. Ao mesmo tempo,
precisamos fazer todas as intervenções nas linhas sem parar a produção dos
modelos que já eram fabricados. O clima também não ajudou, com muitas chuvas em
Joinville e Gravataí que atrasaram algumas obras. Mas ainda assim conseguimos
fazer tudo sem alterar os prazos finais”, disse. Em Gravataí, onde uma nova
fábrica com o dobro do tamanho surgiu da antiga, o vice-presidente de manufatura
conta que a construtora contratada precisou até “importar” mão de obra e cimento
de outros Estados para concluir as obras.
Apesar dos contratempos,
Pinheiro ressalta que as mudanças trazem ganhos de produtividade e competividade
em todas as unidades. Ele diz que ainda não terminou os cálculos, mas assegura
que as novas linhas produzem com alta eficiência e economia de custos que chega
a dois dígitos porcentuais em relação aos sistemas antigos. “Mudamos tudo, com
mais automação e maior flexibilidade de produção”, avalia.
Os novos
produtos exigiram novas linhas de produção e também requalificação dos
trabalhadores, com introdução de conceitos de manufatura enxuta e adoção de
processos mais sofisticados, como análise de ruídos e controle de torque em
ferramentas. Pinheiro cita como exemplo de aprendizado a multiplicação de
montagens de módulos eletroeletrônicos: “Tínhamos carros com quatro ou cinco
módulos e agora são quase 20 em alguns produtos.”
Fábricas e produtos
Em pouco mais de um
ano, a antiga fábrica de São Caetano passou por grandes modificações em 50% de
sua área, com a adição de mais 16 mil metros quadrados e 159 novos robôs. A
antiga linha de prensas foi removida e duas novas linhas foram instaladas. A
“nova safra” da GM no ABC paulista começou em 2011 com o Chevrolet Cruze, que
foi seguido pelo também sedã Cobalt, este ano entrou em linha o hatch Cruze
Sport6 e este mês começou a produção comercial do monovolume Spin, que chega ao
mercado em julho para substituir Meriva e Zafira. Os quatro se juntaram à picape
Montana e ao sedã de entrada Classic, renovados em 2010.
Na gaúcha
Gravataí, a mais nova fábrica do grupo no País, inaugurada em 2000, acontece a
maior e mais profunda expansão, com inclusão de 39 mil metros quadrados de áreas
construídas que dobram o tamanho da planta e elevam a capacidade de produção de
240 mil para 360 mil/ano. Pinheiro explica que toda a linha de estamparia foi
modernizada e os setores de funilaria, pintura e montagem final foram ampliados.
A armação de carrocerias (soldagem) é completamente nova, com quase 100% de
automação, só a pintura recebeu 44 novos robôs.
As obras em Gravataí
começaram em setembro de 2010 e este ano a produção teve de ser paralisada por
três semanas para a instalação da nova linha de funilaria, que foi construída ao
lado da antiga. “Ninguém acreditava que pudéssemos fazer isso em tão pouco
tempo. Na Europa ou no Japão esse processo levaria pelo menos seis semanas”,
conta Pinheiro. “Isso só foi possível por causa de uma mistura de falta de
juízo, criatividade e muita capacidade de trabalho”, brinca o executivo.
Agora, enquanto ainda produz os velhos hatch Celta e sedã Prisma nas
instalações ampliadas e modernizadas, Gravataí se prepara para fazer os dois
modelos da nova família Ônix, prováveis substitutos dos carros já feitos lá e
também da linha Corsa. Ainda este ano chega ao mercado um deles e o outro é
aguardado para o início de 2013.
São José
desacelera
Outra unidade onde os trabalhos de expansão estão
terminados é São José dos Campos, no Vale do Paraíba paulista. Apesar de ser a
maior fábrica da GM na América do Sul, é a que menos recebeu investimentos em
expansão no atual ciclo. Só a linha de utilitários passou por modernização para
fazer a nova picape média S 10 – que em breve ganha a companhia de seu derivado
SUV Blazer. As mudanças aconteceram principalmente na pintura, com mais 8 mil
metros quadrados e 12 novos robôs. Na armação de carrocerias chegaram outros 73
robôs. Com isso, a capacidade subiu de 14 para 18,5 unidades por hora.
Na linha de automóveis de São José a GM tirou o pé do acelerador e
recentemente reduziu para apenas um turno a produção do Corsa, Meriva e Zafira,
todos produtos em fim de ciclo de vida, cujos substitutos serão produzidos em
outras plantas. “Ainda é uma fábrica importante, fazemos a S10, motores e
transmissões lá, mas precisamos localizar os novos produtos em plantas mais
competitivas”, explica Pinheiro. Segundo ele, o sindicato local não quis
negociar acordos de longo prazo, como aconteceu em São Caetano e Gravataí, o que
tornou a planta a menos competitiva do grupo no Brasil. “Cerca de 70% dos custos
de manufatura são relativos à mão de obra”, destaca o executivo.
Joinville a todo vapor
Ao mesmo tempo em
que ampliava todas as suas fábricas brasileiras, a GM conseguiu superar as
adversidades climáticas em Joinville, onde constrói sua nova divisão de motores
e transmissões, com áreas que somam 20 mil metros quadrados, em um investimento
de R$ 210 milhões. Após as chuvas que atrasaram as obras, Pinheiro revelou que a
unidade já está produzindo cabeçotes para os atuais motores: deverão ser 40 mil
já este ano. Quando a unidade estiver a plena carga, a capacidade chegará a 200
mil cabeçotes e 150 mil motores por ano.
Para tudo que a área de
manufatura da GM Brasil teve de fazer nos últimos dois anos, Pinheiro resume com
uma frase de quatro palavras: “Isso deu muito trabalho.”
Por: Pedro
Ktney