sábado, 4 de fevereiro de 2012

Brasil: Indefinição política trava R$ 4,2 bi em novas fábricas

Adiado por duas vezes desde o final do ano passado pelo Governo Federal, o novo acordo automotivo atrasa planos das montadoras estrangeiras que querem se instalar e produzir carros no Brasil

Com os frequentes adiamentos do anúncio do chamado “novo acordo automotivo” do Governo Federal, pelo menos R$ 4,2 bilhões em investimentos que poderiam ter sido aplicados no Brasil estão parados nas gavetas das montadoras estrangeiras. O nome entre aspas se refere a um novo pacote de regras, que terá o objetivo de regular a comercialização, importação e produção de veículos no Brasil. Já os números estão baseados num levantamento feito pela reportagem do Carsale, onde foram somados os montantes anunciados no ano passado pelas empresas que já divulgaram projetos para a construção de fábricas no país.

Até o momento, são 10 empresas com projetos parados, adiados ou com risco de serem cancelados, caso as novas regras com estímulos ao setor não saiam imediatamente do papel. São elas: BMW, Land Rover, Mazda, Suzuki, Mitsubishi, Brilliance, BYD, Chery, Lifan e JAC Motors. E a principal dúvida delas são quais serão os benefícios a serem concedidos para as importadoras que pretendem instalar uma unidade produtiva no país. “É impossível uma empresa, que queira construir uma fábrica no Brasil, já começar com os 65% de nacionalização exigidos pelo Governo. O ideal é que esse processo seja gradativo. Assim, a empresa consegue se enquadrar de uma maneira mais fácil”, afirmou o presidente da JAC Motors do Brasil, Sérgio Habib.


O problema todo surgiu no final de setembro do ano passado, quando de surpresa o Ministério da Fazenda, em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, divulgaram um decreto automotivo. A medida aumentou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 30 pontos percentuais só para os veículos importados. Com esse cenário, diversas montadoras estrangeiras resolveram antecipar seus planos de instalar uma unidade fabril no país, visando fugir da nova alíquota.
“Fomos pegos de surpresa naquela situação em que o Governo mudou a regra no meio do jogo, sem um prazo cabível para nos enquadrarmos. Agora, aguardamos o novo acordo automotivo, que promete definir os parâmetros para quem deseja investir no mercado brasileiro no futuro. Porém, quanto mais o tempo passa e o anúncio atrasa, mais o nosso futuro fica complicado”, disse o presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), José Luiz Gandini.


Quais são os investimentos

Entre as dez empresas citadas, quatro estão com as cifras confirmadas. A JAC Motors, por exemplo, anunciou um montante de R$ 900 milhões para a construção da fábrica na cidade de Camaçari (BA). Em entrevista a um telejornal da Rede Bandeirantes de Televisão, o chefão da marca garantiu que os planos podem ser adiados, caso o novo acordo automotivo demore a sair. “Estavam falando que desistimos de construir a fábrica e isso não procede. O que ocorre é que, como já falei várias vezes, é impossível ter uma fábrica no Brasil com o nível de nacionalização exigido. Então estamos aguardando para dar sequência ao projeto”, contou Sérgio Habib.
Os outros investimentos confirmados são da Chery, em torno de R$ 700 milhões, para a construção de uma unidade na cidade de Salto (SP); da Suzuki (em Itumbiara, Goiás), R$ 100 milhões; e da Mitsubishi (em Catalão, Goiás), R$ 1 bilhão. Mazda, BMW, Land Rover, BYD e Brilliance ainda estão definindo os valores, que somados, atingiriam a casa de R$ 1,3 bilhão.
 
O futuro

Além das montadoras estrangeiras, a chamada “indústria nacional”, que são as empresas que já possuem fábricas instaladas no Brasil, também divulgou novos investimentos para o país. Somados aos valores citados acima, o montante rompe a barreira dos R$ 30 bilhões. Mas, será que o surgimento de tantas novas unidades de produção poderá alterar o cenário da política industrial do país?

De acordo com o especialista em economia industrial e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Rodrigo Leandro de Moura, será difícil uma alteração muito radical, caso o Governo Federal não crie novos pacotes de incentivos ao desenvolvimento de pesquisas e inovação tecnológica. “Fornecer apenas incentivos fiscais é algo muito pequeno. Para alterar a política industrial do país, principalmente no setor automotivo, há a necessidade de novas políticas que incentivem desde a pequena fábrica de autopeças, até o investimento em inovação e pesquisa por parte das grandes montadoras”, afirma.

Outro ponto levantado por Moura é a questão da falta de infraestrutura. “O custo de se produzir no Brasil ainda é altíssimo. E não falamos apenas da carga tributária. Outros pontos, como logística, transporte e custo com mão-de-obra entram na lista de ônus para as empresas que investem em produção local”, explica o professor.
Polêmica

Ainda segundo Rodrigo de Moura, diferentemente do que muitos pensam, a chegada de novas unidades industriais, principalmente de empresas que hoje atuam como importadoras, está relacionada com a alta margem de lucro conquistada no mercado brasileiro.“Muitos estão falando que as chinesas e coreanas estão anunciando fábricas por causa do aumento do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados], porém isso não é verdade. Elas podem até utilizar esse argumento, mas o planejamento para instalar uma unidade de produção é algo que leva tempo. O que realmente está na mira dessas empresas é o alto lucro conquistado pelas montadoras que já atuam por aqui”, diz.
Fonte disponível no(a): Carsale.uol.com.br

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